Com aval inédito da Comissão de Valores Mobiliários da França, empresa lança no mercado de ativos digitais europeu oferta pública para aquisição de jetons em prol de transição energética
A precursora do projeto é a WPO (Wind Prospect Operations),
líder europeia de plataformas independentes em serviços e produtos no setor de
energias renováveis.
Em maio deste ano, a empresa obteve aprovação da Autoridade de Mercados Financeiros (AMF) francesa para lançar uma Oferta Pública de jetons GreenToken. Uma iniciativa pioneira no mundo, para uma Oferta Inicial de Moeda (ICO - Initial Coin Offering) operada por uma blockchain na área de energia.
Plataforma tecnológica das criptomoedas, a blockchain
é uma “cadeia de blocos”, concebida como um sistema inviolável de registro de
transações de ativos digitais.
Considerada a principal inovação tecnológica do
bitcoin, a primeira e mais negociada das criptomoedas, a blockchain é
uma base de dados distribuída que armazena todos os registros de transações
individuais ou em bloco.
Uma criptomoeda é um tipo de dinheiro que se distingue
das moedas tradicionalmente conhecidas porque é 100% digital e porque não é
emitida por nenhum governo. “O que o e-mail fez com a informação, o bitcoin
fará com o dinheiro”, diz Fernando Ulrich, autor do livro Bitcoin: A moeda na
era digital.
Do mesmo modo que o correio eletrônico prescinde
de um intermediário (o carteiro, no caso das cartas) para a troca de informações,
o bitcoin prescinde do papel-moeda nas transações comerciais. Além de servir de
meio de troca, o bitcoin atua como reserva de valor e como unidade de conta na
precificação e comercialização de produtos.
As operações realizadas com moedas digitais -como
o bitcoin- são protegidas por criptografia, daí o termo “criptomoeda”. São
controladas e validadas pelo próprio usuário, ou um grupo de pessoas, que as
registram em computadores por meio da blockchain, a plataforma que é considerada
um “protocolo de confiança”. Não há nenhuma autoridade central envolvida.
A ideia de fomentar o setor de energias renováveis,
especialmente a solar e a eólica, via mercado de jetons GreenToken surge do
staff dirigente da WPO, a partir do Plano de Ação (PACTE) do governo francês, de
incentivos ao crescimento e transformação de empresas, pelo qual a AMF pode
autorizar a emissão de jetons por novas empresas, diz o CEO da WPO Barthélémy
Rouer.
Atuando em três países europeus (França, Irlanda e
Suécia) e no Reino Unido como fornecedor independente de serviços no setor de
energias renováveis, a WPO foi criada em 2015, resultante da fusão de uma
primeira empresa (fundada em 2008) e sua subsidiária, ambas voltadas à gestão
de ativos em energia eólica.
Em 2011, essas duas empresas começam a atuar também
no setor de energia solar, abrindo caminho para a atuação da WPO, em 2019, na
gestão de ativos de 600 instalações eólicas e solares em 10 países europeus,
somando uma capacidade instalada de mais de 5 GW. “Uma potência com capacidade
para alimentar todas as residências de Paris”, lembra Rouer.
“O objetivo da ICO é contribuir para a transição
energética, pela valorização e o compartilhamento do know-how entre os diversos
atores do setor de fontes renováveis”, explica Barthélémy Rouer, em entrevista à
web magazine Plein Soleil, antes da emissão pela WPO dos jetons para aquisição
pública.
O objetivo da WPO é oferecer a cada ator
(industrial ou individual) um dispositivo confiável para monetizar os dados de
energia no setor de renováveis. “Queremos nos tornar o Spotify da transição
energética. A ideia é fomentar o mercado de eletricidade verde, via blockchain,
onde cada ator contribui com seu dado-energia [informação da energia produzida]”,
diz Rouer.
O CEO da WPO esclarece a analogia com o Spotify, o
popular aplicativo de celular para ouvir músicas, pelo qual os autores ganham
pela propriedade intelectual de sua música e pela frequência com que o usuário
a escuta.
A precificação do dado-energia entregue pelo usuário
na blockchain permitirá sua negociação no mercado de ativos digitais e,
consequentemente, que ele seja remunerado por uma criptomoeda ou por jetons “de
uso qualificado”, como o GreenToken. A WPO já negocia desde 2018 seus
dados-energia, a troco de GreenTokens via blockchain; “trocamos nossos
serviços por dados de nossos clientes”, informa Rouer.
“O público-alvo de nossa plataforma multisserviços
no mundo das energias limpas são profissionais ou particulares, de modo
individual ou associativo. Os dados-energia coletados podem servir para diversos fins ou setores de atividade. Profissionais do setor de seguros, por exemplo, podem
trocar dados sobre sinistros [em parques eólicos e usinas solares]; na área de
finanças, investidores podem trocar informações sobre taxas de retorno dos
projetos e sua fiabilidade com o tempo. Um particular pode financiar com seus
GreenTokens o projeto para um telhado fotovoltaico de sua casa ou sua participação
no projeto de uma usina solar.”, explica Rouer.
Segundo Rouer, a Europa tem cerca de um milhão de
profissionais no setor de energias renováveis, 20 mil parques eólicos e 60 mil
usinas solares. A expectativa da WPO é ter entre 1 e 2 milhões de usuários de
seu dispositivo de monetização de dados-energia até 2023.
Questionado sobre o impacto energético de seu dispositivo na blockchain, Rouer diz que o montante de GreenTokens que a WPO lançará representa menos de 1% da energia consumida por transações da plataforma Ethereum. “O balanço energético do projeto GreenToken é amplamente positivo”, conclui.
O número de jetons GreenToken voltados ao setor de
energia verde a ser lançado no mercado de ativos digitais “deve permanecer fixo
e definitivo”, afirma Rouer. De fato, este é o princípio fundamental do mercado
de criptomoedas, que se baseia na capacidade de reproduzir a extração de um
metal precioso da Terra. Assim, apenas um número limitado e previamente conhecido
de bitcoins, por exemplo, pode ser negociado ou “minerado”, como dizem os
operadores da blockchain.
A ICO da WPO foi aberta ao público em 8 de setembro e encerrou-se em 12 de novembro, pelo site ico.wpo.eu. Foram emitidos 15 milhões de euros em GreenTokens, visando a meta da venda de 10 milhões, ao custo unitário de 0,95 euros, que podem ser adquiridos em euro ou via duas criptomoedas, o bitcoin e o ethereum.
Uma vez alcançada a meta fixada pela WPO, os jetons seriam cotados e negociados em um mercado secundário, por meio da rede GreenToken ou via plataforma Savitar.
Infelizmente, o montante mínimo da operação (soft-cap)
não foi alcançado. Os valores serão reembolsados integralmente aos participantes,
como consta no site ico.wpo.eu. Não há informação do montante adquirido. Inegavelmente
auspiciosa, a iniciativa da WPO deverá aguardar um outro momento para prosperar. Acompanharemos...
Fontes:
https://www.greenunivers.com/2020/09/wpo-lance-son-offre-publique-de-jetons-vise-10-me-242517/
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