Relatório especial sobre perspectivas de demanda e produção de petróleo, gás e carvão adverte que previsão de alta dos países produtores ameaça meta de elevação da temperatura planetária em 1,5 oC
Por
um lado, vários países, entre eles os mais poluidores, anunciam em 2020 compromissos
alvissareiros com a neutralidade de carbono, mesmo em um cenário de retomada
econômica no pós-pandemia. Por outro lado, no mesmo ano os maiores produtores
de combustível fóssil sinalizam com planos de aumento da produção.
No último dia 2, pesquisadores do Programa da ONU para o meio ambiente (UNEP, na sigla em inglês) divulgaram o Production Gap Report (Relatório sobre Lacuna de Produção), em que defendem uma redução da produção global de combustíveis fósseis à razão de 6% ao ano na próxima década, para impedir o aumento da temperatura do planeta além de limites considerados sustentáveis.
“Para
limitar o aquecimento global [ao horizonte de 2100] abaixo dos 2 oC ou preferivelmente a
1,5 oC, conforme prevê o Acordo de Paris (de 2015), o mundo precisa
diminuir a produção de combustível fóssil”, diz o documento do UNEP. Mas é justamente
o oposto o que seus pesquisadores constatam: governos continuam planejando
produzir carvão, petróleo e gás muito acima do necessário para manter factíveis
os limites de temperatura projetados para o final do século.
O
relatório do UNEP destaca que a pandemia de Covid-19 e as medidas de contenção
adotadas engendraram novas incertezas na lacuna de produção de combustíveis
fósseis, que sofreu em 2020 uma queda considerável, mas que “irá moldar o
futuro do clima planetário”.
A
edição especial do mais recente relatório do UNEP analisa
as condições que levaram à lacuna da produção global de combustíveis fósseis em relação ao nível do
ano passado e como os países podem preparar o terreno para uma transição
energética “justa e equitativa” para fontes renováveis.
Para
compensar esta lacuna, os países produtores planejam um aumento de 120% na produção
até 2030, quando deveriam reduzi-la em 60% no mesmo período, para garantir as
metas preconizadas no Acordo de Paris (figura).
Em números redondos, o gráfico mostra que, para limitar o aquecimento climático a 1,5 oC, as emissões do setor de energias não renováveis precisam ser reduzidas de 34 GtCO2/ano (nível de 2019) para pouco menos de 14 GtCO2/ano em 2030.
Detalhadamente,
o UNEP recomenda que nos próximos 10 anos haja uma redução anual da produção
mundial de carvão, petróleo e gás de 11%, 4% e 3%, respectivamente, o que
equivale a uma diminuição global de 6% por ano na produção desses combustíveis.
No
mês passado, para impulsionar a economia de seus países frente às dificuldades
impostas pela pandemia de coronavírus, os chefes de estado do G20 se
comprometeram com investimentos de 233 bilhões de dólares na produção e no
consumo de combustíveis fósseis, contra 146 bilhões de dólares para o
fomento de energias renováveis.
Os
países têm planejado um aumento de produção da ordem de 2% ao ano; mantido este
ritmo nos próximos 10 anos, o mundo entraria numa trajetória rumo a uma elevação
de temperatura superior a 3 oC até o final do século.
“Nossas
pesquisas mostram claramente que vamos enfrentar graves perturbações climáticas
se os países continuarem a produzir combustíveis fósseis nos níveis atuais, sem
falar em suas previsões de aumento”, diz Michael Lazarus, pesquisador do Stockholm
Environment Institute e um dos principais autores do relatório do UNEP.
Lazarus
afirma que a solução apontada pela pesquisa é tão clara quanto o alerta para a
gravidade do problema: “políticas governamentais que promovam ao mesmo tempo
uma redução da demanda e da oferta de combustível fóssil, apoiando as
comunidades que ainda dependam deste tipo de energia”.
Fonte:
http://productiongap.org/wp-content/uploads/2020/12/PGR2020_FullRprt_web.pdf
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