segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Clima: para limitar aquecimento global, produção mundial de combustíveis fósseis deve cair 60% até 2030, diz ONU

Relatório especial sobre perspectivas de demanda e produção de petróleo, gás e carvão adverte que previsão de alta dos países produtores ameaça meta de elevação da temperatura planetária em 1,5 oC

Central elétrica de carbono em Niederzier-Elsdorf, Nordrhein-Westfalen (Alemanha). FOTO: Sipa Press https://www.lopinion.fr/edition/economie/l-allemagne-fixe-a-2038-l-arret-total-centrales-a-charbon-175918

Por um lado, vários países, entre eles os mais poluidores, anunciam em 2020 compromissos alvissareiros com a neutralidade de carbono, mesmo em um cenário de retomada econômica no pós-pandemia. Por outro lado, no mesmo ano os maiores produtores de combustível fóssil sinalizam com planos de aumento da produção.

No último dia 2, pesquisadores do Programa da ONU para o meio ambiente (UNEP, na sigla em inglês) divulgaram o Production Gap Report (Relatório sobre Lacuna de Produção), em que defendem uma redução da produção global de combustíveis fósseis à razão de 6% ao ano na próxima década, para impedir o aumento da temperatura do planeta além de limites considerados sustentáveis.

“Para limitar o aquecimento global [ao horizonte de 2100] abaixo dos 2 oC ou preferivelmente a 1,5 oC, conforme prevê o Acordo de Paris (de 2015), o mundo precisa diminuir a produção de combustível fóssil”, diz o documento do UNEP. Mas é justamente o oposto o que seus pesquisadores constatam: governos continuam planejando produzir carvão, petróleo e gás muito acima do necessário para manter factíveis os limites de temperatura projetados para o final do século.

O relatório do UNEP destaca que a pandemia de Covid-19 e as medidas de contenção adotadas engendraram novas incertezas na lacuna de produção de combustíveis fósseis, que sofreu em 2020 uma queda considerável, mas que “irá moldar o futuro do clima planetário”.

A edição especial do mais recente relatório do UNEP analisa as condições que levaram à lacuna da produção global de combustíveis fósseis em relação ao nível do ano passado e como os países podem preparar o terreno para uma transição energética “justa e equitativa” para fontes renováveis.

Para compensar esta lacuna, os países produtores planejam um aumento de 120% na produção até 2030, quando deveriam reduzi-la em 60% no mesmo período, para garantir as metas preconizadas no Acordo de Paris (figura).

Emissões de carbono (em giga toneladas de gás carbônico equivalente, GtCO2) associadas à produção global de combustível fóssil. Tendências para o período 2020-2030, conforme cenário de produção. Adaptado do Special ReportThe Production Gap - The discrepancy between countries’ planned fossil fuel production and global production levels consistent with limiting warming to 1.5oC or 2.0oC”, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

Em números redondos, o gráfico mostra que, para limitar o aquecimento climático a 1,5 oC, as emissões do setor de energias não renováveis precisam ser reduzidas de 34 GtCO2/ano (nível de 2019) para pouco menos de 14 GtCO2/ano em 2030.

Detalhadamente, o UNEP recomenda que nos próximos 10 anos haja uma redução anual da produção mundial de carvão, petróleo e gás de 11%, 4% e 3%, respectivamente, o que equivale a uma diminuição global de 6% por ano na produção desses combustíveis.

No mês passado, para impulsionar a economia de seus países frente às dificuldades impostas pela pandemia de coronavírus, os chefes de estado do G20 se comprometeram com investimentos de 233 bilhões de dólares na produção e no consumo de combustíveis fósseis, contra 146 bilhões de dólares para o fomento de energias renováveis.

Os países têm planejado um aumento de produção da ordem de 2% ao ano; mantido este ritmo nos próximos 10 anos, o mundo entraria numa trajetória rumo a uma elevação de temperatura superior a 3 oC até o final do século.

“Nossas pesquisas mostram claramente que vamos enfrentar graves perturbações climáticas se os países continuarem a produzir combustíveis fósseis nos níveis atuais, sem falar em suas previsões de aumento”, diz Michael Lazarus, pesquisador do Stockholm Environment Institute e um dos principais autores do relatório do UNEP.

Lazarus afirma que a solução apontada pela pesquisa é tão clara quanto o alerta para a gravidade do problema: “políticas governamentais que promovam ao mesmo tempo uma redução da demanda e da oferta de combustível fóssil, apoiando as comunidades que ainda dependam deste tipo de energia”.

Fonte: http://productiongap.org/wp-content/uploads/2020/12/PGR2020_FullRprt_web.pdf

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