quarta-feira, 23 de março de 2022

Relatório IPCC 2022 reenfatiza: ‘Mudança climática ameaça bem-estar da humanidade e saúde do planeta’

Nova publicação de especialistas internacionais do clima trata dos efeitos do aquecimento global e das vulnerabilidades e capacidades de adaptação a ele

Igarapé do Rio Paraná do Mamori, na Amazônia. FOTO (2021): Antonio Pralon

O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês) divulgou no último dia 28 a segunda parte do seu 6º relatório de avaliação (AR6), redigido por 270 cientistas de 67 países.

O documento sintetiza estudos sobre os efeitos atuais do aquecimento climático -que registrou em 2021 uma alta de 1,09 oC em relação à temperatura planetária na era pré-industrial- sobre as populações mais vulneráveis e ecossistemas.

Nesta 2ª parte do AR6, o IPCC destaca três pontos: 1) redução da disponibilidade de água e alimentos na África e Ásia, particularmente em pequenas ilhas insulares; 2) impacto na saúde humana em todas as regiões do mundo (aumento da mortalidade, surgimento de novas doenças, incidência de cólera), estresse por calor e degradação da qualidade do ar; e 3) redução de 50% das áreas de distribuição de espécies animais e vegetais.

De acordo com o atual relatório, esses efeitos seriam irremediáveis, mesmo no cenário mais otimista de uma elevação da temperatura global de 1,5 oC até o final do século, como preconizada no Acordo de Paris (2015).

O IPCC estima que entre 3,3 e 3,6 bilhões de pessoas vivem em condições vulneráveis à mudança climática e, portanto, estão sujeitas aos efeitos descritos acima. Os cientistas alertam que cerca de 1 bilhão de habitantes de zonas costeiras serão afetados por fenômenos naturais extremos até 2050.

Na 1ª parte do relatório AR6, publicada em agosto de 2021, os especialistas do clima concluíram que a mudança climática estava ocorrendo mais rápido do que se previa. A versão atual do AR6 apresenta os conhecimentos mais avançados sobre a evolução do clima e reafirma a responsabilidade do Homem sobre o aquecimento global.

O presente relatório avaliou cinco cenários de evolução socioeconômica (SSP, do inglês Shared Socio-economic Pathway), com diferentes graus de desafios de adaptação e atenuação. À exceção do cenário mais otimista (SSP1) -de uma forte cooperação internacional priorizando o desenvolvimento sustentável- a temperatura planetária aumentaria 1,5 oC até 2030, ou seja, 10 anos antes da estimativa anterior do IPCC.

No entanto, os cientistas anunciam que nem tudo está perdido e o planeta tem 83% de chance de se manter dentro do limite de + 1,5 oC até 2100. Mas, para isso, é preciso que a humanidade reduza drasticamente suas emissões de carbono, limitando-as a uma taxa média de 320 megatoneladas de CO2 por ano. Mantida a trajetória atual das emissões antrópicas de CO2, o aquecimento climático alcançaria 2,7 oC, diz o IPCC.

Um outro ponto importante destacado na 2ª parte do AR6 é a queda da eficiência dos sumidouros de carbono, reservatórios naturais ou artificiais que capturam e armazenam o CO2 atmosférico por mecanismos físicos e biológicos.

Florestas e oceanos são os sumidouros naturais mais importantes, pois representam um balanço positivo entre a absorção e a emissão de carbono, via fotossíntese, ao contrário da queima de combustíveis fósseis. Os especialistas climáticos apontam no AR6-II que, mesmo nos cenários mais otimistas, esses sumidouros estão perdendo capacidade de estocar carbono e, pior ainda, podem liberar o CO2 acumulado.

Os cientistas do IPCC insistem na necessidade da urgência de medidas imediatas e mais ambiciosas para enfrentar os riscos impostos pela crise climática.

“Com a restauração de ecossistemas degradados e preservando entre 30 e 50% dos habitats terrestres, oceânicos e de água doce, a sociedade se beneficiará da capacidade da natureza de absorver e estocar carbono”, disse Hans-Otto Pörtner, diretor do grupo de trabalho que produziu o AR6-II. Porém, acrescenta Pörtner, um acesso rápido ao desenvolvimento sustentável depende de decisões políticas e financiamentos adequados.

“O atual relatório é um novo alerta sobre as consequências da inação. A mudança climática representa uma séria ameaça ao nosso bem-estar e à saúde do planeta. As ações de hoje irão moldar a adaptação da humanidade e a resposta da natureza aos crescentes riscos climáticos”, declarou Hoesung Lee, presidente do IPCC, em 28 de fevereiro de 2022, no comunicado de imprensa feito em Berlim.

A 3º e última parte do relatório AR6 deve ser divulgada no próximo mês de abril e sua versão completa está prevista para ser publicada em setembro de 2022.

Fontes: https://www.ipcc.ch/assessment-report/ar6/

https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg2/resources/press/press-release-french/?fbclid=IwAR2BWFn5ni3htJxHogMw_Gpc_EVcXTjiZB8agS8vj3n_y4M1oNuuBuemV_U

https://www.vie-publique.fr/en-bref/284117-rapport-2022-du-giec-nouvelle-alerte-face-au-rechauffement-du-climat?fbclid=IwAR2hHT6WMC0DDcjgfQXmmcZiXOYtNHkg08lKDaB33yxMFrvXZ798QMSwiUw

https://climate.selectra.com/fr/actualites/rapport-giec-2022?fbclid=IwAR0QXU7IQcntajjEGpXkxZyCfCTp5dnGoJ7vFEeugrKPF58O3ENAJmn23kc

Nenhum comentário:

Postar um comentário