Nova publicação de especialistas internacionais do clima trata dos efeitos do aquecimento global e das vulnerabilidades e capacidades de adaptação a ele
O Painel Intergovernamental
sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês) divulgou no último dia 28 a
segunda parte do seu 6º relatório de avaliação (AR6), redigido por 270
cientistas de 67 países.
O documento sintetiza estudos sobre os efeitos atuais do aquecimento climático -que registrou em 2021 uma alta de 1,09 oC em relação à temperatura planetária na era pré-industrial- sobre as populações mais vulneráveis e ecossistemas.
Nesta 2ª parte do AR6, o
IPCC destaca três pontos: 1) redução da disponibilidade de água e alimentos na
África e Ásia, particularmente em pequenas ilhas insulares; 2) impacto na saúde
humana em todas as regiões do mundo (aumento da mortalidade, surgimento de
novas doenças, incidência de cólera), estresse por calor e degradação da
qualidade do ar; e 3) redução de 50% das áreas de distribuição de espécies animais
e vegetais.
De acordo com o atual relatório,
esses efeitos seriam irremediáveis, mesmo no cenário mais otimista de uma
elevação da temperatura global de 1,5 oC até o final do século, como
preconizada no Acordo de Paris (2015).
O IPCC estima que entre
3,3 e 3,6 bilhões de pessoas vivem em condições vulneráveis à mudança climática
e, portanto, estão sujeitas aos efeitos descritos acima. Os cientistas alertam
que cerca de 1 bilhão de habitantes de zonas costeiras serão afetados por fenômenos
naturais extremos até 2050.
Na 1ª parte do relatório
AR6, publicada em agosto de 2021, os especialistas do clima concluíram que a
mudança climática estava ocorrendo mais rápido do que se previa. A versão atual do AR6 apresenta os conhecimentos mais avançados sobre a evolução do clima e reafirma a
responsabilidade do Homem sobre o aquecimento global.
O presente relatório avaliou
cinco cenários de evolução socioeconômica (SSP, do inglês Shared Socio-economic
Pathway), com diferentes graus de desafios de adaptação e atenuação. À
exceção do cenário mais otimista (SSP1) -de uma forte cooperação internacional
priorizando o desenvolvimento sustentável- a temperatura planetária aumentaria
1,5 oC até 2030, ou seja, 10 anos antes da estimativa anterior do
IPCC.
No entanto, os cientistas
anunciam que nem tudo está perdido e o planeta tem 83% de chance de se
manter dentro do limite de + 1,5 oC até 2100. Mas, para isso, é
preciso que a humanidade reduza drasticamente suas emissões de carbono,
limitando-as a uma taxa média de 320 megatoneladas de CO2 por ano. Mantida a
trajetória atual das emissões antrópicas de CO2, o aquecimento climático alcançaria
2,7 oC, diz o IPCC.
Um outro ponto importante
destacado na 2ª parte do AR6 é a queda da eficiência dos sumidouros de carbono,
reservatórios naturais ou artificiais que capturam e armazenam o CO2 atmosférico
por mecanismos físicos e biológicos.
Florestas e oceanos são os
sumidouros naturais mais importantes, pois representam um balanço positivo entre
a absorção e a emissão de carbono, via fotossíntese, ao contrário da queima de
combustíveis fósseis. Os especialistas climáticos apontam no AR6-II que, mesmo nos
cenários mais otimistas, esses sumidouros estão perdendo capacidade de estocar
carbono e, pior ainda, podem liberar o CO2 acumulado.
Os cientistas do IPCC
insistem na necessidade da urgência de medidas imediatas e mais ambiciosas para
enfrentar os riscos impostos pela crise climática.
“Com a restauração de ecossistemas degradados e preservando entre 30 e 50% dos habitats terrestres, oceânicos e de água doce, a sociedade se beneficiará da capacidade da natureza de absorver e estocar carbono”, disse Hans-Otto Pörtner, diretor do grupo de trabalho que produziu o AR6-II. Porém, acrescenta Pörtner, um acesso rápido ao desenvolvimento sustentável depende de decisões políticas e financiamentos adequados.
“O atual relatório é um novo alerta sobre as consequências da inação. A mudança climática representa
uma séria ameaça ao nosso bem-estar e à saúde do planeta. As ações de hoje irão
moldar a adaptação da humanidade e a resposta da natureza aos crescentes riscos
climáticos”, declarou Hoesung Lee, presidente do IPCC, em 28 de fevereiro de
2022, no comunicado de imprensa feito em Berlim.
A 3º e última parte do
relatório AR6 deve ser divulgada no próximo mês de abril e sua versão completa
está prevista para ser publicada em setembro de 2022.
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