segunda-feira, 4 de junho de 2012

Câncer de próstata: especialistas dos EUA condenam rastreamento por PSA

Professor titular de Urologia da USP considera atitude ‘irresponsável’; Inca tem ressalvas similares às do grupo americano, mas não descarta exame 

http://www.masterfile.com/stock-photography/image/400-04239162/The-thing-most-guys-dread.-Hearing that-rubber-glove-snap.-Darn-those-prostate-exams...darn-them-to-heck.

A Força-Tarefa de Médicos e Especialistas em Medicina Preventiva dos Estados Unidos (USPSTF, na sigla em inglês) condenou recentemente o teste antígeno prostático específico (PSA), como método de rastreamento para o câncer de próstata.

“Muitos homens são prejudicados e poucos são beneficiados pelos resultados destes exames”, declarou a USPSTF. A polêmica criada entre urologistas e a confusão gerada nos pacientes foram imediatas.

A falta de conhecimento sobre a história natural do câncer de próstata – de como o tumor aparece e como evolui – é a principal justificativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para também não considerar o teste de PSA eficaz para rastrear a doença.

A única informação precisa que se tem a respeito deste tipo de câncer é que ele surge em homens a partir de certa idade, diz Luiz Antônio Santini, diretor-geral do Inca. Dados do instituto revelam que 30% dos casos são descobertos na necropsia, o que comprova que alguns pacientes vivem com a doença sem saber dela. 

De acordo com  Santini, o PSA detecta alterações na próstata, mas não é específico para apontar um tumor, porque o teste pode ser afetado por uma lesão ou aumento da próstata, razão pela qual o PSA não é eficaz como rastreamento. Mas nada impede que, a partir de uma avaliação individual, o paciente decida junto com seu médico fazer o exame, afirma o diretor do Inca.

Para Miguel Srougi, professor titular de Urologia da USP, a visão da força-tarefa americana “é enviesada, de clínicos que nunca viram um doente; ninguém se preocupou em ver como fica um paciente que sofre durante cinco anos com a doença”.

Ele defende o exame de PSA, pelo menos nos grupos de risco: negros, obesos e pessoas com histórico familiar da doença. No Brasil, os custos inviabilizariam qualquer rastreamento generalizado; para fazer a triagem em todos os homens com mais de 50 anos, o governo precisaria desembolsar R$ 6 bilhões, diz Srougi.

Segundo o comunicado da USPSTF, “o câncer de próstata é um problema sério de saúde pública que afeta milhares de homens e suas famílias, mas antes de fazer o teste PSA, todos merecem saber o que a ciência conhece sobre o exame: há pequenos benefícios e prejuízos significativos. Não recomendamos o rastreamento a menos que o indivíduo tenha estas informações e tome uma decisão pessoal”.

Já o porta-voz da Sociedade Brasileira de Urologia, Carlos Alberto Bezerra, declarou à reportagem de O Globo que a entidade só se posicionará sobre a recomendação ou não do teste PSA após uma análise (já encomendada) para avaliar os impactos do exame na população brasileira, que tem características parecidas com a americana.

O aumento do número de testes PSA pode ser reflexo do medo do toque retal, diz Bezerra. Com o toque retal conjugado ao PSA o médico pode acompanhar melhor o estado da próstata, afirma o urologista.

O urologista Miguel Srougi informa que 40 mil americanos morrem por ano vítimas de câncer de próstata e 18% dos homens no mundo ainda terão a doença.

Mesmo com todas as falhas do PSA, vale a pena o rastreamento. Quando tratado o tumor, os riscos de incontinência urinária decorrentes da cirurgia são de 15% e de impotência, por causa da radioterapia, de 2% a 3%; só se chegará a um “exame perfeito” em cerca de dez anos, diz Srougi.

“Estamos no início das pesquisas que apontam para um novo marcador, o HGC, mas isso ainda não foi testado em grandes populações [uma das etapas para se alcançar um exame sem falhas], mas até isso acontecer teremos que usar o PSA mesmo”, conclui o professor da USP. 

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