domingo, 10 de maio de 2015

França: portador de coração artificial morre 9 meses após implante

Foi o segundo paciente a participar de teste clínico com prótese intracorporal; pioneiro viveu 2 meses e meio
 
Maquete do coração artificial criado pelo professor Alain Carpentier
http://www.pro-blog.fr/avis-des-medecins-les-nouvelles-technologies-sont-indispensables/ 

Como tantas outras, a ciência médica avança a passos largos. O primeiro transplante de coração aconteceu há 47 anos.

Mas parece longe o dia em que veremos portadores de coração artificial longevos... quem sabe, até, recarregando sua prótese com energia solar captada em “roupas fotovoltaicas”.

O coração artificial em questão é uma prótese implantada dentro do corpo, concebida para pacientes com insuficiência cardíaca ou doenças cardiovasculares graves. 

O dispositivo foi idealizado para substituir o coração natural, garantindo a circulação sanguínea permanentemente no corpo humano. 

A pesquisa científica e as tentativas de se produzir este órgão de forma artificial registram uma longa história. Começou em 1967, na Universidade de Utah (EUA), com o professor Kolff, que realizou diversas experiências com animais, até o primeiro teste clínico com um humano, em 1982. 

Pelas mãos do Dr. Kolff, o “coração artificial total” modelo Jarvik-7 era, então, implantado no corpo de Barney Clark, um dentista de Seattle com séria insuficiência cardíaca. 

Clark viveu 112 dias, com muita dificuldade, já que era obrigado a estar conectado o tempo todo a um aparelho de 180 kg. O paciente sofreu várias hemorragias; chegou a pedir que o desconectassem da máquina e o deixassem morrer. 

Entre os principais desafios da empreitada do coração artificial estão o aumento de sua autonomia, adequação da prótese ao tamanho da caixa torácica, redução de riscos de infecção e de trombose ou embolia. Os riscos de infecção estão fortemente ligados aos cabos percutâneos de alimentação da bateria do coração artificial.

Mas a pesquisa continuou evoluindo e, 31 anos depois que a primeira prótese foi testada em um homem, o médico-cirurgião francês Alain Carpentier testou um protótipo de coração projetado para dispor de uma autonomia de vários anos. 

A cirurgia de implante, coordenada pelo Dr. Carpentier, ocorreu em 18 de dezembro de 2013, em Paris. O paciente – Claude Dany, de 76 anos – viveu apenas 74 dias com o coração artificial. 

Para a segunda experiência, a equipe média escolheu um paciente mais jovem, de 68 anos, portador de uma insuficiência cardíaca terminal. “Suas funções renais e hepáticas ainda estavam pouco afetadas e a função pulmonar era boa”, declarou o professor Carpentier. A operação foi realizada em 5 de agosto de 2014, na cidade de Nantes, pela equipe do Dr. Daniel Duveau.

No último dia 1º de maio o paciente havia sido internado , com quadro de “insuficiência circulatória”, e deveria passar por uma nova cirurgia, para substituição do coração artificial. Mas veio a falecer no dia seguinte.

O coração Carmat – nome da empresa criada pelo Dr. Carpentier – foi o primeiro do tipo “bioprotético”, testado em humanos. Possui duas baterias e uma caixa de controle (foto). 

“As falhas mecânicas ou eletrônicas não são difíceis de identificar e esperamos ter elementos de informação ainda hoje [dia da morte do paciente]”, declarou Marcelo Conviti, diretor-geral da Carmat, ao jornal Le Monde. 

Três dias depois, a empresa informava que dados preliminares indicavam que o funcionamento do coração se deteriorou devido a um problema no controle do motor, levando a uma diminuição do volume de sangue bombeado. 

Um terceiro paciente, septuagenário, recebeu um biocoração Carmat no início do mês passado. A cirurgia foi efetuada no Hospital Europeu Georges-Pompidou, em Paris. 

Trata-se de uma prótese bastante inovadora, já que tem a particularidade de ser fabricada com “biomateriais” de origem animal, que reduzem as chances de coagulação do sangue. Além disso, seu peso foi reduzido em mais de 2/3 em relação ao de sua versão original; pesa 900 g ou “só” três vezes mais que um coração natural. 

Ao contrário de próteses cardíacas implantadas em outros países, o coração Carmat foi concebido para substituir de modo permanente o coração enfermo e não apenas para garantir sobrevida até o transplante, diz o Dr. Carpentier. 

No decorrer de 2015, a Carmat (que tem ações na bolsa de Paris), visa finalizar os testes de factibilidade do biocoração e dar início à nova fase da pesquisa, que é implantar próteses em mais pacientes (de 20 a 25), para avaliar, além da sobrevida, sua qualidade de vida e conforto, com vistas à homologação e à comercialização na União Europeia. 

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