domingo, 10 de maio de 2020

Hidroxicloroquina: primeiro estudo amplo não apoia uso sistemático em pacientes de Covid-19

Entre os quase 1.400 pacientes avaliados, melhora daqueles que receberam a droga foi a mesma dos que não receberam


A hidroxicloroquina (HCQ) tem sido usualmente administrada em pacientes de Covid-19, mas sem maiores evidências de sua eficácia. Pesquisas de laboratório sugerem que ela pode impedir a replicação do vírus SARS-CoV-2 em mamíferos.

Dados clínicos de pequenos grupos de pacientes não tem possibilitado uma interpretação adequada. Um estudo publicado no último dia 7 no The New England Journal of Medicine, inédito quanto ao grande número de pacientes envolvidos, não corrobora o efeito curativo da HCQ para Covid-19.

A hidroxicloriquina é uma substância de estrutura molecular similar à da cloroquina (vide imagem), um fármaco amplamente utilizado no tratamento de doenças como a malária, artrite reumatoide e lúpus, entre outras.

Desde o primeiro estudo clínico, com uma dezena de pacientes de Covid-19 tratados com cloroquina e HCQ, publicado em 25 de fevereiro de 2020 por pesquisadores chineses, até os mais recentes, incluindo aqueles da equipe do infectologista francês Didier Raoult, nenhum deles envolvia mais do que uma centena de doentes.

Agora, 12 pesquisadores da Universidade de Columbia (EUA) publicaram os resultados de um estudo com 1.376 pacientes de Covid-19, hospitalizados em um grande centro médico de Nova Iorque, intitulado Observational Study of Hydroxychloroquine in Hospitalized Patients with Covid-19.

Trata-se do primeiro estudo com um número tão alto de pacientes, em estágio moderado e avançado da doença, excluindo aqueles que receberam alta, foram entubados ou faleceram nas 24 horas após ter ingressado no hospital.

Entre os pacientes avaliados, 811 (58,9%) receberam hidroxicloroquina e 565 (41,1%) não. Os pesquisadores analisaram a relação entre o uso de HCQ e uma insuficiência respiratória severa, que levasse o paciente a precisar de respiração artificial (ser entubado) ou à óbito.

De um total de 346 pacientes que desenvolveram insuficiência respiratória, 180 foram entubados e 166 faleceram sem terem sido entubados. Utilizando sofisticadas técnicas de análise estatística, para contabilizar as diferenças existentes entre os dois grupos de pacientes, incluindo idade, sexo e sinais vitais iniciais, constatou-se que os usuários de HCQ tiveram o mesmo risco de morte ou de serem entubados que o grupo de não usuários.

A conclusão do estudo é que doentes de Covid-19 não devem receber tratamento rotineiro com a hidroxicloroquina.

“Nossos resultados não excluem completamente a possibilidade de um benefício ou dano modesto com o tratamento de HCQ, mas não o recomendam fora [do contexto] de testes clínicos aleatórios”, diz Neil Schluger, do Centro Médico Irving-Presbyterian/Columbia University, de Nova Iorque, líder da equipe autora do trabalho.

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2012410

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