Nova pesquisa
amplia ainda mais universo de estudos climáticos que apontam ação antrópica
como determinante no aquecimento global
Artigo publicado hoje na
revista Environmental Research Letters atualiza uma publicação de 2013, que
trazia uma concordância de 97% entre estudos climáticos revisados por pares, mostrando
que a mão do homem está mudando o clima. Agora essa concordância atinge
praticamente 100%.
O resultado da pesquisa de 8 anos atrás considerou trabalhos publicados em revistas internacionais com corpo editorial, entre 1991 e 2012. Já a análise da compilação de textos científicos divulgada hoje, refere-se a estudos publicados entre 2012 e 2020.
“Estamos virtualmente
certos de que o consenso é superior a 99% e isto encerra qualquer discussão pública
séria sobre a realidade da mudança climática de origem antrópica”, afirma Mark
Lynas, pesquisador da Cornell University e um dos autores do artigo.
Outro autor do estudo, o professor
Benjamin Houlton, da Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida, da mesma
universidade, considera que “é fundamental reconhecer o papel principal das
emissões humanas de gases de efeito estufa, para que possamos rapidamente efetivar
soluções para enfrentar os impactos devastadores dos desastres climáticos sobre
as empresas, as pessoas e a economia”.
Apesar da eloquência do
atual estudo, pesquisas de opinião pública, bem como declarações de políticos e
dirigentes públicos mostram que falsas crenças ainda persistem e suscitam
debates entre cientistas sobre as reais causas das mudanças climáticas.
Um levantamento realizado
em 2016 por uma equipe do Pew Research Center revela que apenas 27% dos
adultos norte-americanos acreditam que “quase todos” os cientistas concordam
que a mudança climática é causada pela atividade humana.
Uma pesquisa Gallup
de 2021 mostra um agravamento da falta de concordância entre atores políticos
democratas e republicanos dos Estados Unidos sobre o consenso científico que
atribui à ação do homem a principal causa do aumento de temperatura da Terra
desde a Revolução Industrial.
“É importante poder
quantificar um consenso, por meio de uma análise criteriosa da literatura, a fim de
evitar que artigos [‘científicos’] escolhidos a dedo possam embasar os argumentos
muitas vezes usados na esfera pública”, explica Lynas.
No artigo Greater than
99.9% consensus on human caused climate change in the peer-reviewed scientific
literature, publicado nesta data, os autores examinaram inicialmente uma
amostra aleatória de 3 mil estudos climáticos, extraída de um conjunto de dados
de mais de 88 mil artigos, publicados em inglês no período de 8 anos. Encontraram
4 publicações expressando ceticismo sobre o aquecimento climático de origem
humana.
Um algoritmo criado para
identificar palavras-chave recorrentes em artigos de especialistas céticos do
clima, como “energia solar”, “raios cósmicos” e “ciclos naturais”, foi então
aplicado ao conjunto dos 88.125 artigos selecionados. Foram encontrados 28
artigos que, direta ou indiretamente, questionavam a mudança climática
antrópica. Todos publicados em revistas de menor relevância.
Se a concordância de 97% da
pesquisa publicada em 2013 deixava alguma dúvida sobre o consenso científico acerca da
influência humana no aquecimento global, o estudo atual é ainda mais eloquente
para dissipar qualquer dúvida. “Deveria ser a última palavra”, conclui Mark Lynas,
autor do livro “Sementes da Ciência: Por que erramos tanto sobre Organismos
Geneticamente Modificados” (2018).
Se há 20 anos os céticos
do clima ocupavam muito espaço na mídia, embora desde então minoritários em
contestar a atividade humana como fator decisivo da mudança climática, hoje em
dia ainda fazem muito barulho. Negacionistas da ciência da esfera pública e privada se apoiam em suas
conclusões para ignorar o perigo do aquecimento global.
Daí a importância de
estudos quantitativos que demonstrem que tais publicações são marginais e não
ajudam a debelar a ideia de que “nada adianta fazer em nossa vida cotidiana,
como economizar água e energia”, por exemplo, já que as “forças da natureza” serão sempre
determinantes sobre o clima planetário. Uma contribuição relevante para manter
a urgência climática no topo da agenda mundial.
https://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/ac2966/pdf
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