terça-feira, 19 de outubro de 2021

Mudança climática: mais de 99,9% dos estudos afirmam que atividade humana é causa principal

Nova pesquisa amplia ainda mais universo de estudos climáticos que apontam ação antrópica como determinante no aquecimento global

“A mudança climática é uma farsa”. Ideia de que aquecimento global se deve a fenômenos naturais tornou-se mito aos olhos da Ciência do século XXI

Artigo publicado hoje na revista Environmental Research Letters atualiza uma publicação de 2013, que trazia uma concordância de 97% entre estudos climáticos revisados por pares, mostrando que a mão do homem está mudando o clima. Agora essa concordância atinge praticamente 100%.

O resultado da pesquisa de 8 anos atrás considerou trabalhos publicados em revistas internacionais com corpo editorial, entre 1991 e 2012. Já a análise da compilação de textos científicos divulgada hoje, refere-se a estudos publicados entre 2012 e 2020.

“Estamos virtualmente certos de que o consenso é superior a 99% e isto encerra qualquer discussão pública séria sobre a realidade da mudança climática de origem antrópica”, afirma Mark Lynas, pesquisador da Cornell University e um dos autores do artigo.

Outro autor do estudo, o professor Benjamin Houlton, da Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida, da mesma universidade, considera que “é fundamental reconhecer o papel principal das emissões humanas de gases de efeito estufa, para que possamos rapidamente efetivar soluções para enfrentar os impactos devastadores dos desastres climáticos sobre as empresas, as pessoas e a economia”.

Apesar da eloquência do atual estudo, pesquisas de opinião pública, bem como declarações de políticos e dirigentes públicos mostram que falsas crenças ainda persistem e suscitam debates entre cientistas sobre as reais causas das mudanças climáticas.

Um levantamento realizado em 2016 por uma equipe do Pew Research Center revela que apenas 27% dos adultos norte-americanos acreditam que “quase todos” os cientistas concordam que a mudança climática é causada pela atividade humana.

Uma pesquisa Gallup de 2021 mostra um agravamento da falta de concordância entre atores políticos democratas e republicanos dos Estados Unidos sobre o consenso científico que atribui à ação do homem a principal causa do aumento de temperatura da Terra desde a Revolução Industrial.

“É importante poder quantificar um consenso, por meio de uma análise criteriosa da literatura, a fim de evitar que artigos [‘científicos’] escolhidos a dedo possam embasar os argumentos muitas vezes usados na esfera pública”, explica Lynas.

No artigo Greater than 99.9% consensus on human caused climate change in the peer-reviewed scientific literature, publicado nesta data, os autores examinaram inicialmente uma amostra aleatória de 3 mil estudos climáticos, extraída de um conjunto de dados de mais de 88 mil artigos, publicados em inglês no período de 8 anos. Encontraram 4 publicações expressando ceticismo sobre o aquecimento climático de origem humana.

Um algoritmo criado para identificar palavras-chave recorrentes em artigos de especialistas céticos do clima, como “energia solar”, “raios cósmicos” e “ciclos naturais”, foi então aplicado ao conjunto dos 88.125 artigos selecionados. Foram encontrados 28 artigos que, direta ou indiretamente, questionavam a mudança climática antrópica. Todos publicados em revistas de menor relevância.

Se a concordância de 97% da pesquisa publicada em 2013 deixava alguma dúvida sobre o consenso científico acerca da influência humana no aquecimento global, o estudo atual é ainda mais eloquente para dissipar qualquer dúvida. “Deveria ser a última palavra”, conclui Mark Lynas, autor do livro “Sementes da Ciência: Por que erramos tanto sobre Organismos Geneticamente Modificados” (2018).

Se há 20 anos os céticos do clima ocupavam muito espaço na mídia, embora desde então minoritários em contestar a atividade humana como fator decisivo da mudança climática, hoje em dia ainda fazem muito barulho. Negacionistas da ciência da esfera pública e privada se apoiam em suas conclusões para ignorar o perigo do aquecimento global.

Daí a importância de estudos quantitativos que demonstrem que tais publicações são marginais e não ajudam a debelar a ideia de que “nada adianta fazer em nossa vida cotidiana, como economizar água e energia”, por exemplo, já que as “forças da natureza” serão sempre determinantes sobre o clima planetário. Uma contribuição relevante para manter a urgência climática no topo da agenda mundial.

Fontes: https://www.eurekalert.org/news-releases/931811?fbclid=IwAR0Hk5Jkw3klhJfpzbJWLTGySM4UVI7QBbW6qD4HTPvg4U2F1Auc0Ak_kbM

https://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/ac2966/pdf

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