Além de emitir gases de efeito estufa, degelo acelerado na região pode liberar patógenos altamente nocivos à saúde humana
A criosfera da Região
Ártica está entrando em colapso e apresenta riscos ambientais superpostos. É o
que diz o artigo Emergent Biochemical Risks from Arctic Permafrost
Degradation, publicado no mês passado na revista Nature Climate Change.
“O degelo do pergelissolo (permafrost), em particular, ameaça liberar materiais biológicos, químicos e radiativos sequestrados durante dezenas a centenas de milhares de anos”, diz a publicação.
À medida que retornam ao meio
ambiente, esses constituintes tornam-se potencialmente desestabilizadores de ecossistemas, podendo reduzir populações de espécies selvagens únicas daquela região
e colocar em risco a saúde humana.
O estudo foi realizado por
pesquisadores do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL, na sigla em inglês) da
NASA. Um amplo trabalho, que atualiza o estado da arte e identifica os perigos
potenciais que representam substâncias congeladas no pergelissolo do Ártico. São
mencionadas 209 referências bibliográficas no artigo.
A pesquisa é focada no “efeito
em cascata dos processos naturais e antrópicos em curso no Ártico”, que podem acelerar
o aquecimento climático e o impacto ambiental na região, já que “não há certeza
se os ecossistemas árticos, que são muito bem adaptados, possuem a resiliência
necessária para resistir a novos estresses”.
A Região Ártica está aquecendo
duas vezes mais rápido que a média global, prejudicando a fauna, a flora e a economia
das populações locais. É o epicentro de um círculo vicioso: quanto mais quente, mais prolongado é o período de degelo e, portanto, maior é a
liberação de gases deletérios ao clima, especialmente o metano.
O pergelissolo é um tipo
de solo formado por terra, gelo e rochas, que se mantém congelado por pelo
menos dois anos seguidos. Sua espessura varia de um metro a mais de um
quilômetro. É um gigantesco reservatório de carbono, porque contém uma grande
quantidade de matéria orgânica, acumulada ao longo do tempo. Com o degelo, os
microrganismos que vivem no solo consomem o carbono estocado, liberando metano.
De acordo com o estudo
divulgado no último dia 30, além do CO2 e CH4 -que contribuem para o
aquecimento atmosférico- o degelo do permafrost pode liberar bactérias
resistentes a antibióticos, vírus desconhecidos e resíduos radiativos oriundos
de lixo nuclear da Guerra Fria e de outros componentes químicos.
Foram identificados mais
de cem microrganismos resistentes aos antibióticos modernos em terras
congeladas de grande profundidade na Sibéria. Essas super-bactérias seriam levadas
ao meio ambiente pela água produzida pelo degelo durante períodos prolongados, como
consequência do aquecimento atmosférico.
Outros componentes potencialmente
perigosos para a saúde humana e ecossistemas que podem ser liberados do
pergelissolo são metais pesados (arsênio, mercúrio, níquel), subprodutos da
extração intensiva de combustíveis fósseis desde a Revolução Industrial.
Os ecossistemas terrestres
do Ártico -basicamente vegetação de tundra e biomas boreais- ocupam cerca de
25% da superfície vegetalizada da Terra. A pesquisa do JPL/NASA destaca a
necessidade de maiores estudos sobre as interações dos processos do ciclo de
carbono com o CO2 atmosférico, a dinâmica do permafrost e os regimes de
perturbação (fogo, insetos, exploração florestal e outros).
Os pesquisadores apontam a
importância de uma melhor compreensão do balanço entre o CH4 emitido em zonas
de planícies (úmidas) por fontes biogênicas e o CH4 consumido em terras altas
(secas) de CH4 por organismos biotróficos. A dinâmica desses fluxos de carbono,
por sua vez, depende das emissões planetárias, que podem intensificar ou
atenuar o aquecimento do permafrost.
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