segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Mudança climática: degradação de permafrost do Ártico representa ‘riscos bioquímicos emergentes’, diz estudo

Além de emitir gases de efeito estufa, degelo acelerado na região pode liberar patógenos altamente nocivos à saúde humana

Pergelissolo no Ártico canadense. “O permafrost é uma condição térmica, cuja formação, persistência e degradação dependem fortemente do clima”: https://www.campbellsci.com.br/canadian-permafrost

A criosfera da Região Ártica está entrando em colapso e apresenta riscos ambientais superpostos. É o que diz o artigo Emergent Biochemical Risks from Arctic Permafrost Degradation, publicado no mês passado na revista Nature Climate Change.

“O degelo do pergelissolo (permafrost), em particular, ameaça liberar materiais biológicos, químicos e radiativos sequestrados durante dezenas a centenas de milhares de anos”, diz a publicação.

À medida que retornam ao meio ambiente, esses constituintes tornam-se potencialmente desestabilizadores de ecossistemas, podendo reduzir populações de espécies selvagens únicas daquela região e colocar em risco a saúde humana.

O estudo foi realizado por pesquisadores do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL, na sigla em inglês) da NASA. Um amplo trabalho, que atualiza o estado da arte e identifica os perigos potenciais que representam substâncias congeladas no pergelissolo do Ártico. São mencionadas 209 referências bibliográficas no artigo.

A pesquisa é focada no “efeito em cascata dos processos naturais e antrópicos em curso no Ártico”, que podem acelerar o aquecimento climático e o impacto ambiental na região, já que “não há certeza se os ecossistemas árticos, que são muito bem adaptados, possuem a resiliência necessária para resistir a novos estresses”.

A Região Ártica está aquecendo duas vezes mais rápido que a média global, prejudicando a fauna, a flora e a economia das populações locais. É o epicentro de um círculo vicioso: quanto mais quente, mais prolongado é o período de degelo e, portanto, maior é a liberação de gases deletérios ao clima, especialmente o metano.

O pergelissolo é um tipo de solo formado por terra, gelo e rochas, que se mantém congelado por pelo menos dois anos seguidos. Sua espessura varia de um metro a mais de um quilômetro. É um gigantesco reservatório de carbono, porque contém uma grande quantidade de matéria orgânica, acumulada ao longo do tempo. Com o degelo, os microrganismos que vivem no solo consomem o carbono estocado, liberando metano.

De acordo com o estudo divulgado no último dia 30, além do CO2 e CH4 -que contribuem para o aquecimento atmosférico- o degelo do permafrost pode liberar bactérias resistentes a antibióticos, vírus desconhecidos e resíduos radiativos oriundos de lixo nuclear da Guerra Fria e de outros componentes químicos.

Foram identificados mais de cem microrganismos resistentes aos antibióticos modernos em terras congeladas de grande profundidade na Sibéria. Essas super-bactérias seriam levadas ao meio ambiente pela água produzida pelo degelo durante períodos prolongados, como consequência do aquecimento atmosférico.

Outros componentes potencialmente perigosos para a saúde humana e ecossistemas que podem ser liberados do pergelissolo são metais pesados (arsênio, mercúrio, níquel), subprodutos da extração intensiva de combustíveis fósseis desde a Revolução Industrial.

Os ecossistemas terrestres do Ártico -basicamente vegetação de tundra e biomas boreais- ocupam cerca de 25% da superfície vegetalizada da Terra. A pesquisa do JPL/NASA destaca a necessidade de maiores estudos sobre as interações dos processos do ciclo de carbono com o CO2 atmosférico, a dinâmica do permafrost e os regimes de perturbação (fogo, insetos, exploração florestal e outros).

Os pesquisadores apontam a importância de uma melhor compreensão do balanço entre o CH4 emitido em zonas de planícies (úmidas) por fontes biogênicas e o CH4 consumido em terras altas (secas) de CH4 por organismos biotróficos. A dinâmica desses fluxos de carbono, por sua vez, depende das emissões planetárias, que podem intensificar ou atenuar o aquecimento do permafrost.

Fonte: https://digitalhabitats.global/blogs/news/article-58?fbclid=IwAR20itDZ1g4VDjBl_429S7jU9MIUhi5DP5Z84z6ohOY4KSCBfdwpRTS8uN4

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