quinta-feira, 3 de novembro de 2011

‘O Segundo Sexo’: ensaio pioneiro sobre condição da mulher contemporânea completa 62 anos

Polêmico livro de Simone de Beauvoir é considerado precursor do movimento feminista

Simone de Beauvoir aos 49 anos (Paris, 1957)
http://www.thelostinnocence.com/tag/simone-de-beauvoir/

A obra de mais de mil páginas – sinônimo de “bíblia do feminismo” para muitas mulheres – foi escrita em dois volumes, publicados em junho (“Fatos e mitos”) e novembro (“A experiência vivida”) de 1949.

Beauvoir, então com 41 anos, dedicou O Segundo Sexo a Jacques-Laurent Bost – o primeiro de seus inúmeros amores contingentes – com quem iniciou um romance, quando já se relacionava há oito anos com Sartre, seu companheiro de toda a vida.

Ao mesmo tempo em que o lançamento do livro foi um sucesso editorial (20 mil exemplares vendidos na 1ª semana), causou escândalo na sociedade francesa. Para algumas mulheres, O Segundo Sexo foi e ainda é uma obra repugnante; para outras, não chega a ser uma “bíblia”, mas referência essencial para uma reflexão sobre a condição feminina.

O ensaio de Beauvoir causou furor em alguns meios literários e também no Vaticano; em ambos os casos, era a moral católica que o condenava, particularmente sua abordagem sobre a sexualidade e o capítulo “A lésbica”.

A psicanalista Elisabeth Roudinesco vê em O Segundo Sexo uma “verdadeira psicologia da alienação feminina”, uma tentativa de se construir uma mulher narcisista alienada de sua própria imagem. No entanto, o livro significou para a França “uma síntese das doutrinas psicanalíticas sobre a feminilidade”, como afirma Roudinesco.

Já a filósofa Sylviane Agacinski, embora reconheça a força dos efeitos liberadores de O Segundo Sexo, questiona uma das principais dimensões do seu feminismo, manifesta no desejo de anulação da natureza feminina, de sua fecundidade, como forma de dar voz às mulheres que convivem em estruturas sociais opressivas.

Apesar das controvérsias em torno de O Segundo Sexo, parece consensual entre estudiosos o reconhecimento definitivo do seu caráter revolucionário, pela forma corajosa e isenta de pudor com a qual Beauvoir tratou a sexualidade e sua relação com a vida social, além de ter inegavelmente contribuído para a liberação de gerações de mulheres.

Simone de Beauvoir não só marcou o pensamento ocidental da segunda metade do século XX – com uma intensa atividade filosófica original – mas também criou uma ponte entre feministas e democratas laicos do mundo muçulmano. Sua herança intelectual está bem viva nos países islâmicos onde as mulheres são subjugadas.

No Irã, Beauvoir é escritora de destaque e suas obras ocupam lugar importante, com a publicação de O Segundo Sexo e dos quatro volumes de suas memórias: “Memórias de uma jovem bem-comportada” (1958), “A força da idade” (1960), “A força das coisas” (1963) e “Balanço final” (1972).

A comercialização de seus livros só foi autorizada no país dos aiatolás a partir de 2000. Seu legado intelectual certamente contribuiu para o sucesso de uma campanha, promovida em 2006 naquele país, pela revogação de leis discriminatórias contra as mulheres.

Fonte: HORS-SERIE Le monde – Une Vie, Une Oeuvre : Simone de Beauvoir, Une femme libre (2011)

Um comentário:

  1. Um dia irei lê-lo.
    Mesmo sendo homem.
    Isso ajudará a entender a psicologia feminina.
    http://buracosupernegro.blogspot.com/

    ResponderExcluir