domingo, 18 de dezembro de 2011

Câncer de mama: vida ceifada de jovem modelo recoloca doença na mídia

‘O câncer foi um companheiro que me ajudou a encarar a vida de outra forma’, diz a venezuelana Eva Ekvall, em sua última entrevista

A modelo e jornalista Eva Ekvall, com o livro “Fuera de foco”, de fotos suas e testemunhos pessoais desde o diagnóstico da doença (em 2010) até o final do tratamento
http://www.noticias24.com/gente/noticia/14639/eva-ekvall-y-su-libro-fuera-de-foco-cronica-de-una-batalla-contra-el-cancer/

Em 2000, quando a jovem esbelta de 1,80 m – filha de pai americano e mãe jamaicana – Eva Ekvall, era coroada Miss Venezuela, 90 mil mulheres latinoamericanas eram diagnosticadas com câncer de mama, segundo a Organização Panamericana da Saúde. 

Dez anos mais tarde, a ex-miss faria parte dessa terrível estatística. Seu tratamento, que incluiu cinco sessões de quimioterapia pré-operatória, uma mastectomia bilateral e algumas sessões de radioterapia, não a salvou. Eva Ekvall faleceu ontem, nos Estados Unidos, aos 28 anos.

“As pessoas na Venezuela não têm problema algum em falar de implantes de seios, mostrar o resultado de cirurgias plásticas, discutir qual é o tamanho ideal, mas o câncer de mama ainda é um tabu; não entendo a razão disso”, declarou Ekvall à BBC Brasil, quando do lançamento de Fuera de foco.

Tão surpreendente como o diagnóstico de câncer, foi, quinze meses antes, a notícia da gravidez de Eva; ela deu à luz à Miranda. “Não me cuidava, tinha ovários policísticos, o que me dava poucas chances de engravidar, mas aconteceu. Engordei 22 kg e meus peitos pareciam dois melões. Achava que ia explodir. Pensava que o inchaço do seio esquerdo fossem glândulas mamárias cheias de leite. Tive muita dificuldade em amamentar e parei dois meses depois. Continuei adiando a consulta ao ginecologista. Nunca imaginei que o que eu tinha era câncer. Tinha só 26 anos”. Narra Eva Ekvall no livro Fuera de foco.

O câncer de mama é o tumor maligno mais comum nas mulheres e a maior causa de morte entre as brasileiras. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a taxa atual de incidência de câncer no Brasil é de 500 mil casos por ano, dos quais, quase 50 mil são de tumores de mama. 

Relativamente raro antes dos 35 anos, após esta idade a incidência do câncer de mama cresce rápida e progressivamente. A maioria dos nódulos que surgem nos seios é benigna, mas isto só pode ser confirmado por exames médicos.

Quando detectado e tratado em fase inicial – com nódulos de diâmetro menor que 1 cm – as chances de cura do câncer de mama chegam a até 95%. Daí a necessidade do exame de mamografia pelo menos uma vez por ano em mulheres com mais de 40 anos. Tumores pequenos só podem ser detectados com este tipo de exame, a simples palpação não é suficiente. Mas há alguns sintomas visíveis que devem servir de alerta e ser examinados o quanto antes por um especialista (veja na imagem abaixo).

Adaptado de http://quererespoderandufer.blogspot.com/2012/02/una-12-sintomas-del-cancer-de-mama.html

Os fatores de risco que levam ao câncer de mama (ou de qualquer tipo) são múltiplos; entre eles, a hereditariedade (histórico familiar), idade, menstruação precoce (antes dos 11 anos de idade), menopausa tardia (após os 55 anos) e nunca ter engravidado ou ter tido o primeiro filho depois dos 30 anos.

Há também fatores de risco mesológicos, relacionados ao estilo de vida, como o excesso de peso e a ingestão regular (ainda que moderada) de álcool, que podem ser modificados, diminuindo o risco de desenvolver a doença. 

Reproduzimos abaixo a última entrevista de Eva Ekvall, concedida ao portal venezuelano 6to Poder e, desde ontem, disponível no site Mujeres de Negro. 

6º Poder: Com a doença, mudaram seus valores pessoais?
Eva Ekvall: Não sei se mudaram meus valores, mas com certeza minha capacidade de entender que a vida é aqui e agora. Meu desejo de agarrar o mundo devo ao câncer. É uma sensação de não querer perder tempo, de escolher melhor as pessoas que te rodeiam, saber que o futuro você está criando neste instante.

6º Poder: Você acredita em Deus? Na vida após a morte?
Eva Ekvall: Nunca tive uma religião específica. Não sei se Deus existe, mas creio na fé. Tenho fé em mim mesma e no poder e na responsabilidade que tenho como ser humano de superar-me, de fazer parte de algo melhor para a humanidade. Acredito em mim porque, senão, não posso crer em mais nada. Quando necessito forças, as busco dentro de mim; a ninguém mais cabe este esforço, pelo menos é assim que fui criada. Em memória dos meus antecedentes judeus, fiz meu Bat-Mitzvah aos 12 anos, porque tinha lido muito sobre o Holocausto e senti que devia honrá-los, embora não me considere judia. Meu pai, de raízes suecas e húngaras, praticou o budismo por muito tempo e para mim é a religião que mais faz sentido. Crer no karma e na vida após a morte; para mim é interessante saber que tudo que estou vivendo é um aprendizado que vem de muitas vidas e que esta crença não se baseia em medo nem respeito; não prestarei contas com o diabo se me comporto mal.

6º Poder: Que nova missão você pretende cumprir com o livro “Fora de foco”?
Eva Ekvall: Roberto [Mata, autor das fotos do livro] tinha começado a me fotografar antes mesmo de sabermos o destino das fotos. Apenas nos pareceu interessante documentar esta experiência [do tratamento]. Só depois da cirurgia é que decidimos fazer das fotos, acompanhadas de textos, um livro. Nunca tivemos uma missão específica; nunca imaginamos que poderia ser tão comovedor para tantas pessoas. Quisemos apenas fazer algo interessante, informativo e esperançoso. Mostramos a Santillana [o editor] e, para nossa surpresa, em três meses o livro estava pronto.

6º Poder: Como é conviver com a ameaça dessa doença?
Eva Ekvall: Nunca encarei o câncer como um inimigo, mas como algo que esteve me ajudando muitíssimo a viver minha vida de uma forma diferente. Encarei o câncer como um companheiro que me ajudou a aprender minha lição.

6º Poder: Como se aprende uma lição tão dura sendo tão jovem?
Eva Ekvall: Isto é parte do que eu tive que aprender. O câncer chega a qualquer idade. Quando você é jovem, pensa que tem milhões de anos para viver e, de repente, se dá conta que, de certo modo, estava vivendo de forma errada. Eu estava um pouco perdida. Sentia-me entediada e apática. Era um pouco cínica, assim como meu senso de humor. Quando soube que tinha câncer, passei a ver tudo em HD, em alta definição. Agora entendi que a atitude e a forma de encarar a vida é a chave. A gente tem que ser mais positivo, não ter medo de ser feliz.
 
Fonte: http://venezuela-mujeresdenegro.blogspot.com/2011/12/la-ultima-entrevista-de-eva-ekvall-el.html

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