segunda-feira, 22 de abril de 2013

Mudança climática: cientistas reconstituem 2 mil anos de temperatura planetária

Entre 1971 e 2000, clima global foi mais quente do que em todos os outros períodos de 30 anos nos últimos 14 séculos, diz estudo 

Amostra de gelo coletada na Antártica (FOTO: Reidi Roop) http://www.carbonbrief.org/blog/2013/04/scientists-reconstruct-2,000-year-temperature-history-continent-by-continent 

O que troncos de árvore, pólen, corais e gelo têm a ver com mudança climática? São eles que fornecem os vestígios que os cientistas necessitam para reconstruir a história do clima da Terra.

A revista Nature Geoscience publicou ontem o mais completo estudo já feito sobre a evolução da temperatura do planeta. Um grupo de 78 cientistas de 24 países mapeou a evolução da temperatura global e em sete regiões continentais nos últimos 2 mil anos.

Os primeiros registros de temperatura remontam ao final do século XVII. Daí a importância de se buscar na natureza elementos que forneçam informações sobre o clima passado, em um espaço de tempo bem mais longo. Os modelos climáticos são validados graças a essas informações. 

No novo estudo, em que mais de 500 desses vestígios (sedimentos oceânicos, anéis de árvores, pólen fossilizado, corais e gelo polar) foram analisados, os cientistas traçaram a “rota” da temperatura nos dois últimos milênios. 

Eles encontraram temperaturas médias com variação similar em todos os continentes, mas também – dependendo do período observado – grandes disparidades regionais. Nos 2 mil anos analisados foi constatada uma tendência de longo prazo ao resfriamento global até o século XIX, exceto na Antártica. 

Embora de caráter global, o resfriamento atmosférico evoluiu muito lentamente; variou de 0,1 a 0,3 ºC por milênio, conforme a região. Enquanto na Europa a temperatura durante o Ótimo Climático Medieval (período entre 830 e 1.100) foi quase tão alta quanto aquela observada no século XX, o mesmo não ocorreu na América do Sul. 

O principal objetivo do projeto PAGES (Past Global Changes) – que permitiu esse amplo estudo – é melhorar a compreensão de como o clima evoluiu no passado em escala regional e até local, possibilitando um refinamento das projeções de temperatura, de modo a “regionalizar” eventuais impactos da alteração climática. 

“Esta variabilidade do clima [em nível continental] é sem dúvida mais relevante para ecossistemas e sociedades do que condições médias globais”, diz Heinz Wanner, professor da Universidade de Berna (Suíça) e um dos participantes do PAGES. 

Saber com riqueza de detalhes como variou no passado a temperatura da Terra ajuda os cientistas a “separar” os efeitos (sobre o clima global) da atividade humana daqueles resultantes de flutuações naturais, como variações da órbita terrestre, intensificação de atividades vulcânicas e erupções solares. 

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