Extraído
e adaptado do artigo The hard truths of climate change – by the numbers,
de Jeff Tollefson, publicado na Nature em 18.9.2019.
Artigo
publicado na Nature há quase um ano destaca a evolução das quantidades
de CO2 equivalente liberado pelos países mais emissores de gases que contribuem
para o aquecimento planetário.
A matéria,
de autoria de Jeff Tollefson, mostra a trajetória das emissões de carbono decorrentes
de atividades humanas, de 1900 a 2018, nos países mais poluidores: China, EUA,
União Europeia, Índia, Rússia e Japão.
As áreas entre
as curvas que delimitam a indicação de cada um desses países no gráfico representam
o total de emissões ao longo de 118 anos pelo respectivo país e o bloco
europeu.
“Para onde vai a China, o mundo vai”, diz Tollefson. O país asiático se tornou a maior fonte de gases de efeito estufa no final da década passada, superando os Estados Unidos. Suas emissões estão crescendo, enquanto as de outros países se estabilizaram ou diminuíram.
“Para onde vai a China, o mundo vai”, diz Tollefson. O país asiático se tornou a maior fonte de gases de efeito estufa no final da década passada, superando os Estados Unidos. Suas emissões estão crescendo, enquanto as de outros países se estabilizaram ou diminuíram.
A emissões
chinesas em 2018 representaram 27% do total e devem atingir seu pico em 2030, se
os compromissos assumidos no Acordo de Paris (2015) forem cumpridos. Mesmo
assim, uma estabilização dessas emissões “não garante a limitação do
aquecimento global em 2 oC”, lembra Tollefson.
Já os
Estados Unidos, segundo maior poluidor do planeta, aumentaram suas emissões em
2018, mas na última década elas caíram porque o carvão foi consideravelmente
substituído pelo gás natural e o uso de fontes renováveis foi intensificado.
“No entanto, o presidente Donald Trump está
revertendo as medidas de contenção de gases de efeito estufa e insiste em
retirar o país do Acordo de Paris”, destaca o jornalista da Nature. As
emissões americanas equivalem a 15% do total.
Por sua
vez, os 28 países que compõem a União Europeia (UE) reduziram em cinco vezes
suas emissões anuais desde 1990, mas respondem por 9% do total de CO2
equivalente emitido no mundo.
As emissões oriundas da queima de carvão continuam sendo uma fonte importante de emissões, mas “algumas estimativas sugerem que a UE está no caminho certo para cumprir as metas assumidas no Acordo de Paris”, escreve Tollefson.
As emissões oriundas da queima de carvão continuam sendo uma fonte importante de emissões, mas “algumas estimativas sugerem que a UE está no caminho certo para cumprir as metas assumidas no Acordo de Paris”, escreve Tollefson.
A Índia, o
quarto maior emissor, contribui para o aquecimento climático bem menos do que
outros países, em base per capita. Apesar do aumento da demanda energética e do
uso intensivo de carvão na última década, o país tem investido muito em
energias renováveis. A Índia responde por 7% das emissões totais.
A Rússia,
que teve uma queda brusca de sua atividade industrial com o colapso da União
Soviética iniciado em 1990, sofreu inicialmente uma queda nas suas emissões de
CO2, mas desde então elas têm aumentado progressivamente. O país investiu pouco
em fontes renováveis e responde por 5% das emissões mundiais.
Completando
o ranking dos dez maiores emissores de carbono do planeta estão o Japão, com 3%
do total, seguido por Irã, Arábia Saudita, Coreia do Sul e Canadá, cada um respondendo
por 2% das emissões totais.
A nova
capacidade instalada anual com fontes renováveis, em relação à capacidade
adicional total, evoluiu significativamente nos últimos dez anos do período
avaliado, passando de 39% (com 61% de capacidade nova baseada em combustíveis
fósseis) em 2008 para 63% em 2018.
Os dados
que embasaram a matéria de Jeff Tollefson foram disponibilizados pelo Global
Carbon Project (GCP), uma organização transnacional dedicada ao estudo do
ciclo de carbono em sua dimensão mais abrangente. O GCP quantifica as emissões
de gases de efeito estufa mundo afora e apresenta graficamente esses dados, na
forma de emissões de CO2 equivalente.
As
análises da evolução dessas emissões por país e globalmente fazem referência ao
Climate Action Tracker, um consórcio de cientistas e analistas políticos
que classificam os países com base em suas ações e promessas de redução de
emissões, e estimam o impacto delas no aquecimento climático.
Com base
nos dados de 2018, cientistas estimaram que as emissões de carbono já causaram
uma elevação de 1 oC na temperatura do planeta em relação à era pré-industrial.
Limitar o aquecimento adicional em 0,5 oC até o final do século
exigiria cortar pela metade as emissões nos próximos dez anos, para alcançar a
neutralidade em carbono até 2050. No cenário mais otimista projetado pelo IPCC,
o aumento de temperatura deve atingir 3 oC até 2100.
Com o
inesperado advento da pandemia que assolou o planeta desde os primeiros meses
de 2020, resta saber como os principais países emissores irão se comportar
diante do imperativo de reerguer suas economias, fortemente deprimidas pelas
medidas de combate ao novo coronavírus.
Há
evidências concretas de que, pelo menos sob o atual governo dos EUA, medidas de
contenção de emissões já aprovadas sejam revertidas em favor do uso de fontes
de energia poluente, tornando ainda mais improvável que o país cumpra suas
metas no Acordo de Paris.
Incertezas
também rondam os países europeus diante do cenário pós-pandemia em relação ao Green
Deal, um ambicioso programa de intensificação do uso de energias renováveis
proposto pela Comissão Europeia, visando à neutralidade de carbono até 2050.
Talvez somente
com a publicação em 2021 dos dados mundiais das emissões de carbono em 2020
seja possível prever um cenário mais realista para a mudança climática no
horizonte de 2030 e além.
Até lá, e
desde que o controle da pandemia permita, esperemos que as mobilizações populares
nos países mais poluidores voltem às ruas, para reverter medidas incompatíveis
com a urgência climática e, assim, mitigar o impacto de fenômenos extremos sobre
as populações dos países menos emissores.
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