Adolescentes de Madri e seis capitais
sul-americanas mostram pouco desejo por carreira científica
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/07/31/pontos-de-ciencia-395632.asp
Uma
pesquisa com estudantes secundaristas de 15 a 19 anos de Madri, São Paulo,
Buenos Aires, Montevidéu, Bogotá, Lima e Assunção, revelou um baixíssimo
interesse do grupo em seguir a profissão de cientista. De cada mil jovens
entrevistados, apenas 27 manifestaram inclinação pela carreira científica.
O estudo Los estudiantes y la ciencia – coordenado
pelo argentino Carmelo Polino e financiado pelo Cyted (Programa Iberoamericano
de Ciencia y Tecnología para el
Desarrollo) – foi realizado entre 2008 e 2010, e envolveu 9
mil estudantes de escolas públicas e privadas das sete capitais.
O
resultado é um paradoxo: ao mesmo tempo em a tecnologia faz parte do cotidiano
desses jovens e, mais do que isso, renova constantemente seus sonhos de consumo,
muito poucos demonstram interesse em tornar-se um cientista.
Apenas
20% dos entrevistados se disseram interessados em profissões no campo da engenharia,
enquanto pouco mais da metade (56%) optou por se profissionalizar na área de
ciências sociais.
“São
dados preocupantes para sociedades em cujas economias há uma intensa
necessidade de cientistas e engenheiros; as razões alegadas igualmente são
desanimadoras: 78% dos estudantes explicam sua opção por achar que as ciências
exatas e as naturais são ‘muito difíceis’, quase metade dos alunos as considera
‘chatas’, enquanto um quarto deles afirma que esses campos oferecem
oportunidades limitadas de emprego”, afirma Polino.
Segundo o
organizador do estudo, a quantidade de estudantes de ciências já não é
suficiente para atender as demandas da economia e da indústria.
A apatia face
os desafios científicos e tecnológicos demonstrada pelos entrevistados pode ser,
em parte, explicada pela forma como as ciências são ensinadas; eles reclamam da
limitação dos recursos usados em sala de aula.
Outro
dado curioso: 50% dos jovens não acredita que as matérias científicas tenham
aumentado sua compreensão da natureza, nem que possam ajudar a resolver
problemas da vida cotidiana.
No Brasil, o estudo foi coordenado pelo linguista Carlos Vogt, do Laboratório
de Jornalismo da Unicamp (Labjor), responsável pelo capítulo “Hábitos informativos
sobre ciência e tecnologia” (disponível em www.oei.es/salactsi/libro-estudiantes.pdf).
“Num país como o nosso, cujo futuro depende dos avanços de ciência e
tecnologia, e onde há uma grande carência de profissionais técnicos e
engenheiros, esses números demandam atenção das autoridades e da sociedade em
geral para despertar nesses jovens o interesse pelas carreiras científicas”,
analisa Vogt.
São muitos os obstáculos que impedem os jovens de acessar
o mundo das ciências; segundo Vogt, “um mundo visto como hermético, que pouco
tem a ver com o mundo sensível em que vivemos, e nem sempre se pode encontrar
com facilidade analogias na vida pessoal dos estudantes”.
A situação é agravada pelo fato de que no Brasil apenas
2% dos formados desejam seguir uma carreira no magistério, e pelo ensino
deficiente que se pratica, explica o professor da Unicamp.
Outras constatações: enquanto 70% dos entrevistados
concordaram com que “a ciência traz mais benefícios do que riscos à
vida das pessoas”, a maioria das respostas (21,5%) diante da premissa “a ciência e a tecnologia
estão produzindo um estilo de vida artificial e desumanizado” refletiu hesitação, nem concordaram, nem discordaram.
De acordo com Carmelo Polino, é preciso eliminar
barreiras culturais e reverter a lógica percebida pelos jovens de que não é
preciso estudar muito para ter êxito na vida. “A cultura do esforço, que é a cultura da ciência,
vem perdendo espaço. Precisamos urgentemente de uma política pública de
educação e comunicação da ciência”, adverte Polino.
“É
preciso analisar esses dados a partir do seu potencial, pois é possível mudar o
paradigma atual, trazendo não apenas mais jovens para as carreiras científicas,
como também melhorando a experiência de aprendizagem da educação secundária”, conclui
Polino.
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